06 January, 2006,4:41 PM
O ano das crianças

"(...) Pus-me então a pensar que há temas e factos que, não constituindo um acontecimento , nos impõem uma continuidade dramática. Ou melhor: uma sucessão de ‘pequenos casos’ poderá ser considerada um acontecimento do ano? Penso que sim. Até porque a continuidade carrega um perigo. O risco de nos deixarmos adormecer perante a ‘normalidade’. A ser assim, não posso deixar de me revoltar contra a ‘normalidade’ do ano que passou no que respeita aos crimes contra crianças. Não falarei do interminável processo Casa Pia, mas da sucessão arrepiante de casos que quase todos os dias tenho de relatar. Crianças espancadas. Crianças violadas pelos pais ou familiares. Recém-nascidos abandonados à morte em caixotes do lixo. (…)
(…) Se todos podemos compreender que há muitos sectores onde de facto se aprende com a experiência e os erros, a vida das crianças portuguesas não deveria estar neste saco. Devia, por exigência da humanidade, estar na primeira linha das preocupações de qualquer Governo. Deveria ser matéria onde se aposta tudo, em quantidade e qualidade, para que não se tente remediar o que não se preveniu. Porque ‘remediar’ é verbo patético quando olhamos nos olhos crianças que foram abusadas sexualmente pelos pais, que são espancadas diariamente. E mete nojo ver como um assunto de tão básico e gritante atentado aos direitos humanos continua a merecer tantas hesitações de sucessivos governos, onde certamente não faltarão paizinhos que se preocupam com as notas dos filhos ou os metem no pedopsiquiatra se o menino anda ‘disperso’ ou ‘stressado’. Olhem nos olhos essas crianças sem comida na mesa que todos os dias sofrem de abusos dos próprios pais. Crianças a quem roubam a infância e a crença no amor, mesmo debaixo do nosso nariz, mesmo ao nosso lado. Crianças que nunca poderão ser adultos equilibrados ou saudáveis. E digam lá se haverá muitas prioridades maiores."

“Recordo, a propósito, que ouvi outro dia a pena máxima que a nossa Justiça reserva àquela mãe que abandonou o recém nascido no caixote do lixo, para morrer ao frio: cinco anos.
Sem mais comentários”




Por Rodrigo Guedes de Carvalho in TvMais
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Isto hoje ficou um pouco comprido, mas leiam,porque acho que este texto devia ser tomado em conta por toda a gente, pela situação que enfrentamos hoje em dia em relação à violência infantil. São elas, as crianças, o nosso futuro e só nos o podemos permitir. Fico à espera de opiniões!
 
posted by x-dre
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